No vermelho, governos buscam fechar suas contas com reajustes de tributos, que entram em vigor neste ano.
No vermelho, governos buscam fechar suas contas com reajustes de tributos, que entram em vigor neste ano.
Para analistas, a causa da crise é clara: as três esferas de poder não fizeram a lição de casa nos últimos anos e agora chegou a hora de ajustar as contas. “A classe política é hipócrita: nas campanhas, diz que não vai ter aumento de impostos, e assim que assume aumenta os tributos”, diz o presidente do conselho superior do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, Gilberto Luiz do Amaral. “Se as contas estão em desequilíbrio, o último responsável é o contribuinte. O desequilíbrio se faz pelas despesas dos governos, e os pacotes usam sempre o mesmo caminho: aumento de impostos.”
Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo, avalia que a população não tem serviços à altura dos impostos que paga. “O que mais questionamos hoje não é o aumento da carga tributária, mas a contrapartida do governo”, afirma. “Onde está a transparência na redução dos gastos públicos? O governo diminuiu ministérios, e a abertura de agências regulatórias? Cada vez mais a máquina está inchada e o governo corta em áreas prioritárias, como saúde e educação.”
Sem volta
Os governos deverão aumentar consideravelmente suas receitas neste ano, mas dificilmente os contribuintes pagarão menos impostos caso as contas se reequilibrem. Os especialistas lembram que o Brasil não é um país com “tradição” em reduzir tributos. “Quando acontece uma desoneração é por um motivo muito forte, por uma necessidade”, diz o tributarista Gilson Fausti, lembrando que há momentos em que setores específicos da economia precisam de um incentivo – como a indústria automobilística nos últimos anos.
Para Fausti, tecnicamente as medidas dos governos foram corretas – errado foi o período. “O equívoco foi precisar chegar a esse ponto de impor um aumento de carga tributária para resolver deficiências que eram anunciadas”, diz. “Quando [os governos] tomaram medidas para corrigir as contas, tomaram de uma vez só. Como há pouca margem de manobra, o governo conserta sempre aumentando a receita.”